17/08/23

Um erro aceitável?

 «Fiambre, por favor!»

«Quanto?»

«Duzentas gramas.»

Ups, asneira. Nunca me lembro, sou dou por ela quando o mal está feito. O que vale é que ninguém estranha. E sejamos justos, compreensivelmente, «grama» é uma palavra irreflectidamente feminina. Um português de gema, ignorante ou nem por isso, não pode ter palmilhado os recantos desta terra sem bater nesta pedra. A rama, a trama, a lama, a cama, a chama, a fama e... o grama.

OK, bem sei, também há o drama, e ninguém se engana.

[Mário Azevedo]

14/08/23

Um verbo larvar

Estou confuso, não existe o verbo «larvar»? De facto, não o encontro em nenhum dicionário (Infopédia, Priberam, Academia, Aulete), nem nos vocabulários (VOP do Portal da Literatura, VOLP da Academia Brasileira de Letras). Apenas se avista o adjectivo, relativo a larvar, ou da sua natureza, embrionário. Também o Sr. Google não o conhece. Caramba, as coisas não larvam? Ninguém tem ideias ou coisas piores larvando na sua mioleira? 

[Mário Azevedo]

17/01/23

Obrigados!

Devemos dizer «obrigados» quando agradecemos em nome de várias pessoas: «Agradecidos pelo convite, obrigados.» Mas a verdade é que ninguém agradece no plural… a não ser quando erra. É muito curiosa esta inversão. Muitas pessoas dizem «obrigados» julgando que a flexão tem que ver com o destinatário: «Obrigado a vossemecê; obrigados a vossemecês!» Donde terá vindo este erro? Terá surgido por hipercorrecção, como erudição equívoca? Ou espontaneamente, por necessidade de pluralizar a deferência? Neste caso, o agadecimento no singular seria omisso, porque não se destinaria a todos, mas apenas a uma pessoa. Seja qual for a explicação, este é um daqueles erros estimáveis, porque surge de uma interpretação intrínseca à propria língua, uma interpretação se calhar até mais intuitiva. É quase criminoso corrigi-lo.

[Mário Azevedo]

20/12/22

Apresentação

Há muito que desejo fazer um blogue sobre a língua portuguesa, não para tirar dúvidas, porque me falta autoridade, mas para as levantar. Interessa-me falar sobre as minhas próprias dúvidas, as minhas hesitações, aquilo que ignoro, aproveitando para reflectir sobre o erro, o seu significado e importância. Não pretendo fazer loas ao erro, mas realçar a vitalidade que ele imprime à língua. 

Há erros abomináveis, que provocam doenças e deformações; há erros inofensivos, que só chateiam os canónicos e puristas; e há erros deliciosos, que surgem tanto na literatura como nas intermináveis e anónimas conversas do dia-a-dia para desorientar a gramática. Falar dos erros pode significar escolher os erros de que mais gostamos.

Há ainda, e sobretudo, o que não está certo nem errado, o que tanto pode ser feito de uma maneira como de outra, ou o que nos obriga a fazer escolhas, mais ou menos controversas. Falar dos erros pode significar tolerância. 

Há, por fim, o que é erro, e deixou de ser... E aqui julgo que falamos do difícil equilíbrio entre a perda e o benefício.

[Mário Azevedo]

Um erro aceitável?

 «Fiambre, por favor!» «Quanto?» «Duzentas gramas.» Ups, asneira. Nunca me lembro, sou dou por ela quando o mal está feito. O que vale é que...